domingo, 8 de agosto de 2010

Certo dia, o João Flor de Maio nos ligou convidando para participar de uma mesa redonda num Encontro Nacional de Arquitetura. Iríamos partilhar a fala com Joviano, um dos caras das Brigadas Populares. Fiquei muito feliz, pois há muito tempo ouvia falar do Joviano, que parecia ser um cara genial. Uma vez, o Breno indicou ele para uma Meza Vazia da Kaza 8, mas eu, nem Paulo e nem o Lucas (os presentes no Enea) tínhamos podido ir.
Chegando lá, nos comprimentamos e a Kaza começou. Muitas imagens, num extenso powerpoint. Joviano, em seguida, apenas se levantou e apresentou o trabalho das Brigadas. Todos ouviam atentos, olhos arregalados. Dentre suas atuações, estava a Ocupação Dandara. Nome de heroína negra, escrava fugida, moradora de Palmares, a Ocupação Dandara parecia ser a menina dos olhos daquele cara. Mais de mil pessoas envolvidas na ocupação de um terreno baldio (há mais de quarenta anos baldio). As belezas e dificuldades de uma escolha: a vida vivida na dura luta por direitos, uma vida faça-o-mundo-você-mesmo.
O Joviano falava e eu pensava. O quanto a Dandara ia na contra-mão das iniciativas de urbanização da nossa cidade. Uma lógica bem diferente daquela que tem orientado as recentes modificações do plano diretor de Belo Horizonte. Não há um prefeito que decide, cordialmente, entre algumas grandes construtoras, como a cidade vai ser desenhada.
Joviano, por fim, criticou questões das propostas de urbanização dos aglomerados: a descaracterização das comunidades, o alargamento de ruas, a retirada de famílias dali, para que avenidas atravessem. Uma ótima oportunidade para que o preço do pãozinho suba, a especulação imobiliária cresça e os antigos moradores, que não se adaptaram aos novos padrõe$, do lugar tenham que se mudar. E aí, ele deu uma deixa pra Kaza, mais ou menos assim: "...aí sobe o custo de vida local e, em pouco tempo, surge até uma galeria de arte ali". "Ó!", o nosso bigode torceu, achando engraçado.
E quando tudo acabou, fomos trocar mais uma prosa. Possíveis interações Kaza-Dandara. No fim, o Paulo não titubeou e teve uma grande idéia: "vamos construir uma galeria de arte no Dandara"! O Joviano... topou na hora.
Tales Bedeschi

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