domingo, 29 de agosto de 2010

Pequena elucidação ou um ponto de vista

Lendo emails atrasados percebi na fala do Tales e no texto do Boaventura enviado por ele, a repetição de uma idéia interessante a respeito do contato de 'mundos', 'situações' ou mesmo ‘poéticas’ diferentes, se assim pudermos chamar, a relação kaza-Dandara.

Bom pra refletir esses dois distintos momentos pelo qual cada um passa, e deixar claro aos 'espectadores' que, essa relação será primordialmente uma grande troca.

Não queremos mostrar o Dandara num evento porque ia ficar bonito esse nome na programação do Transborda. Sabemos que a realidade do povo brasileiro, perpassa há muito tempo pela luta, por falta de terra, de chão, e por muitas outras necessidades básicas ao ser humano. Nem mesmo porque a kaza quer ‘invadir’ o espaço já conquistado por eles e nele fazer o que bem entender.

Nosso contato, falo por mim, raso e vagaroso até agora, porém intenso, e desde o começo, sincero e caloroso, ocorre pelo motivo sim, do kazavazia, caminhando e refletindo há poucos 5 anos, e o Dandara, há pouco mais de um, tomando forma e consistência, terem em comum a necessidade de que algo maior seja feito no espaço urbano. O primeiro, com certeza, vai de encontro, as necessidades do artista criar espaços para realizar diálogos com a sociedade em que vive; o segundo, não tenho dúvidas, ir de encontro a esta sociedade excludente, se firmando como parte dela.

Não posso nem vejo necessidade agora, aprofundar em questões de ordem políticas, filosóficas ou estéticas.

O que sei, em principio, ou mesmo, o que penso saber é a respeito da poética da relação citada por Boaventura “que implica num encontro com o outro sem perigo de diluição”. Ao meu ver essa poética originária do encontro citado acima (kaza-Dandara), só vem a acrescentar ambos os lados, exatamente sem ocorrer o perigo da diluição do que já é cada um, com suas especificidades e deficiências. E ainda, que não seja exigido de ambas as partes, que esse encontro seja eterno, duradouro, existente num tempo infinito.

O mundo dá muitas voltas, e não nos cabe exigir que algo que passe por nossas vidas exista num tempo tal que nem nós mesmos somos capazes de medir....o que surgir desse encontro, é o que com certeza, terá chance de perdurar.



Ana Luiza Neves

domingo, 15 de agosto de 2010

visita de domingo - 15/08

No domingo, chegamos na casa do Breno para fazer comida e conversar sobre a Dandara. Entre queijo, cafezinho, pão com passas começamos. Depois chegou o Nazareth Kooker, preparou um prato de abacate com coalhada para o pão. Acabou servindo para o almoço. O Breno apresentou uma proposta de colaboração com a Kaza X. Um centro de tecnologias de construção, um espaço de troca de saberes em construção na Dandara. Essas coisas do Breno. Ele vai dar um curso, pra participar todo mundo. E esse remelexo envolve a transferência do Centro Cultural e a construção da Galeria de Arte. Não haverá projeto arquitetônico prévio. O projeto é o processo. Seu desenho é dado na medida dos materiais disponíveis.



Terreno que era da igreja, mas agora está reservado para o Centro Cultural e para a Galeria de Arte.

sábado, 14 de agosto de 2010


Uma vez eu tive um sonho com a Kaza Vazia.
Tinha ido numa exposição da Kaza, no plano espiritual. Era uma espécie de homenagem de um museu, com textos e imagens plotados. Depoimentos, não dos artistas, mas de observadores, frequentadores das ocupações e outros.
Ao ver a exposição, fiquei surpreso. "Poxa!" - pensei , "que bacana. Mas seria possível uma exposição da Kaza Vazia no museu? De fato é, mas está faltando alguma coisa"...
Pensei comigo e logo mandei fazer um cartãozinho que deixei disponível, ao lado do livro de visitas do hall do museu. Continha apenas o endereço do blog e a célebre frase do grande Gilberto Gil "é sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar".
Acordei e quis fazer um kartãozinho pra Kaza.

Tales Bedeschi

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Visita ao Dandara







Sobre o Dandara:
http://ocupacaodandara.blogspot.com/

Foi numa manhã de sábado, Davi, Tales, Hernani, Lucas, Paulo e Ana seguiram "viagem" à ocupação Dandara, o dia estava agradável e pelo caminho conversas, dessas que se tem no sábado pela manhã. Chegamos por volta de 11:15 hrs, no bairro céu azul, ao chegar podemos notar o porque deste nome, o céu realmente tem uma tonalidade peculiar naqueles cantos. Fomos recebidos por "Soninha", oferecemos biscoito de polvilho e em troca ganhamos braços abertos, como talvez nenhum de nós ali havíamos antes recebido, a poeira podia ser sentida dentro dos narizes, impregnava e era solta.
Nos apresentamos, assim, por nomes e não por um coletivo, a imagem era muito forte e senti que cada um havia ficado um pouco sem o que dizer diante do que estávamos vendo. Mais tarde, vendo o Tales falar, pude concluir que era poesia, sim aquilo ali era poesia. Aos poucos, fomos conhecendo o Dandara, não só um lugar, mas as pessoas... elas chegavam, se abriam. Andando pela avenida Dandara, com o suor no rosto íamos tomando ensinamentos, verdadeiras aulas e enquanto isso podíamos perceber o Lucas, tomando notas e desenhando tudo o que via. Fomos acolhidos em uma casa, onde falamos sobre arte. Paulo me tocou e me mostrou a pequena distância que existe entre as pessoas, mesmo a distância geográfica sendo grande, e outras distâncias ... a aula perdurou, nossas cabeças se encheram, foi bom estar lá.

Na quarta-feira, Ana, Davi e Lucas vão voltar ao "tal lugar"...

a KAZA X começou ....

fiquei emocionado.
Davi Fuzzari

domingo, 8 de agosto de 2010

Certo dia, o João Flor de Maio nos ligou convidando para participar de uma mesa redonda num Encontro Nacional de Arquitetura. Iríamos partilhar a fala com Joviano, um dos caras das Brigadas Populares. Fiquei muito feliz, pois há muito tempo ouvia falar do Joviano, que parecia ser um cara genial. Uma vez, o Breno indicou ele para uma Meza Vazia da Kaza 8, mas eu, nem Paulo e nem o Lucas (os presentes no Enea) tínhamos podido ir.
Chegando lá, nos comprimentamos e a Kaza começou. Muitas imagens, num extenso powerpoint. Joviano, em seguida, apenas se levantou e apresentou o trabalho das Brigadas. Todos ouviam atentos, olhos arregalados. Dentre suas atuações, estava a Ocupação Dandara. Nome de heroína negra, escrava fugida, moradora de Palmares, a Ocupação Dandara parecia ser a menina dos olhos daquele cara. Mais de mil pessoas envolvidas na ocupação de um terreno baldio (há mais de quarenta anos baldio). As belezas e dificuldades de uma escolha: a vida vivida na dura luta por direitos, uma vida faça-o-mundo-você-mesmo.
O Joviano falava e eu pensava. O quanto a Dandara ia na contra-mão das iniciativas de urbanização da nossa cidade. Uma lógica bem diferente daquela que tem orientado as recentes modificações do plano diretor de Belo Horizonte. Não há um prefeito que decide, cordialmente, entre algumas grandes construtoras, como a cidade vai ser desenhada.
Joviano, por fim, criticou questões das propostas de urbanização dos aglomerados: a descaracterização das comunidades, o alargamento de ruas, a retirada de famílias dali, para que avenidas atravessem. Uma ótima oportunidade para que o preço do pãozinho suba, a especulação imobiliária cresça e os antigos moradores, que não se adaptaram aos novos padrõe$, do lugar tenham que se mudar. E aí, ele deu uma deixa pra Kaza, mais ou menos assim: "...aí sobe o custo de vida local e, em pouco tempo, surge até uma galeria de arte ali". "Ó!", o nosso bigode torceu, achando engraçado.
E quando tudo acabou, fomos trocar mais uma prosa. Possíveis interações Kaza-Dandara. No fim, o Paulo não titubeou e teve uma grande idéia: "vamos construir uma galeria de arte no Dandara"! O Joviano... topou na hora.
Tales Bedeschi